domingo, 31 de outubro de 2010

Dilma Rousseff é a primeira mulher eleita presidente do Brasil


Com 92,53% dos votos apurados, ela não pode ser alcançada por Serra.
Engajamento do presidente Lula impulsionou campanha da candidata.


Dilma Vana Rousseff (PT), 62 anos, foi eleita neste domingo (31) a primeira mulher presidente do Brasil. Com 92,53% dos votos apurados, às 20h04, o Tribunal Superior Eleitoral informou que a petista tinha 55,43% dos votos válidos (excluídos brancos e nulos) e não podia mais ser alcançada por José Serra (PSDB), que, até o mesmo horário, totalizava 44,57% - confira os números da votação. Em um pronunciamento às 20h13, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, anunciou oficialmente a vitória da candidata do PT.
Na campanha eleitoral, Dilma contou com o engajamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo registrou recordes de aprovação – na pesquisa Datafolha do último dia 27, a avaliação positiva do governo alcançava 83%.

Lula participou de vários comícios e declarou repetidamente o apoio à candidata, o que inclusive rendeu a ele multas por propaganda eleitoral antecipada.

Antes da deflagração da campanha, o presidente também se empenhou em montar uma grande aliança política, que, além da adesão de aliados históricos do PT, como PSB e PC do B, incluiu o PMDB, um dos maiores partidos do país.

O PMDB indicou o vice de Dilma, o deputado federal Michel Temer, presidente da Câmara. Nos últimos dias da campanha do primeiro turno, Lula chegou a dizer que esteve em mais eventos do que quando ele próprio foi candidato e disputou a reeleição, em 2006.

No segundo turno, a aliança contava com 11 partidos: PT, PMDB, PC do B, PR, PDT, PRB, PSC, PSB, PTC,PTN e PP, o último a anunciar apoio.

Conheça a trajetória da 1ª mulher presidente do Brasil


A primeira mulher eleita presidente do Brasil, Dilma Vana Rousseff, é uma mineira radicada no Rio Grande do Sul, filha de uma professora e de um imigrante búlgaro. Neste domingo (31), a economista – e avó – de 62 anos conquistou o direito de exercer seu primeiro cargo eletivo. À trajetória dela se misturam alguns dos episódios marcantes da história recente do Brasil, como a resistência à ditadura, a redemocratização do país e a consolidação de uma ordem política equilibrada entre dois blocos pelo PT e pelo PSDB.

Dilma nasceu em 14 de dezembro de 1947, em Belo Horizonte. Entrou na política ainda no antigo colegial, na oposição ao regime de exceção instaurado em 1964. Começou na Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (Polop), movimento que, na sua origem, era uma espécie de coalizão de dissidentes, com quadros do PCB, do PSB e do trabalhismo, além de trotskistas e outros marxistas. Na Polop, ela conheceu o primeiro marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares. Ao lado dele, mais tarde, optou pela luta armada e se juntou ao Comando de Libertação Nacional (Colina).

O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel conheceu Dilma nessa época e é amigo pessoal da nova presidente até hoje. “A Dilma é, e sempre foi, uma pessoa muito inteligente, acima da média. Ela tem uma bagagem cultural muito grande, lia muito desde menina, talvez por influência do pai”, conta. O pai, Pedro Rousseff (Pétar Russev, na língua materna), era um imigrante búlgaro que criou os três filhos com rigidez europeia em Minas Gerais. A mãe, Dilma Jane Silva, era professora.

Em 1970, quando já fazia parte da Vanguarda Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), Dilma Rousseff foi presa pela Operação Bandeirante e detida no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde foi torturada. Condenada pela ditadura, foi levada ao Presídio Tiradentes. Foi libertada no fim de 1972 e se mudou para Porto Alegre, terra de seu segundo marido Carlos Franklin Paixão de Araújo, com quem teve sua filha, Paula.

“Dilma teve uma experiência muito dura na prisão”, conta Pimentel. “Por isso, é uma pessoa que conhece muito bem onde estão os seus limites. Isso faz dela uma mulher muito forte”, diz o ex-prefeito.

Na capital gaúcha, ela cursou ciências contábeis na Universidade Federal do Rio Grande do Sul de 1974 a 1977. Com a volta de Leonel Brizola ao país após a Anistia, Dilma se filiou em 1980 ao recém-fundado Partido Democrático Trabalhista (PDT). Até 1985, ela trabalhou como assessora de deputados do partido na Assembleia Legislativa do estado.

“Dilma tem uma biografia política relativamente recente”, afirma o cientista político Marcelo Coutinho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Ela começa com um papel em um momento histórico muito importante para o país. Depois, se retira, passa a se dedicar mais à família e reaparece no Rio Grande do Sul, para atuar junto ao PDT”, explica.

O ex-governador do RS Alceu Collares conta sobre a atuação de Dilma nos primórdios do PDT. “Dilma estava junto com a gente desde o começo das conversas sobre o que a gente queria que fosse o movimento dos trabalhistas”, conta. “Fizemos reuniões para montar nosso plano de governo para Porto Alegre. Grande parte desses programas foi feita na casa dela”, diz ele.

Em 1987, Dilma foi secretária das Finanças da prefeitura da capital gaúcha, sob a gestão de Collares. Em 1989, virou diretora-geral da Câmara dos Vereadores. Quando Collares foi eleito governador do estado, Dilma passou ao cargo de presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do RS, onde ficou de 1991 a 1993, quando virou secretária de Energia, Minas e Comunicações.

“Escolhi a Dilma para as duas secretarias porque ela sempre demonstrou muita experiência. Ela é uma mulher determinada”, afirma Collares. “Dizem que ela é brava. Não é. É determinada”, afirma.

Com o fim do mandato de Collares, a nova presidente do Brasil voltou para a FEE, até 1997. Em 1998, Olívio Dutra, do PT, foi eleito governador com o apoio do PDT de Dilma e ela voltou à Secretaria de Energia, Minas e Comunicações. Mas quando Brizola e o PDT romperam com os petistas, Dilma e outras lideranças do partido no Rio Grande do Sul optaram por deixar o PDT e se unir ao PT de Dutra.

“Ela vinha de uma linha brizolista, mas sempre teve uma ligação muito forte com o PT, então não foi uma grande surpresa”, diz Coutinho.

Dilma ficou no cargo até o fim do governo Dutra, em 2003, e participou das negociações do governo do Rio Grande do Sul com o governo federal para gestão da crise energética de 2001.

Governo Federal

Quando Lula assumiu o governo, Dilma foi chamada para assumir o Ministério das Minas e Energia e evitar um novo apagão. “É aí que ela passa a ter um papel de fato importante”, avalia o professor da UFRJ. “Dilma teve ampla liberdade para montar sua equipe e fez um trabalho positivo”, afirma Coutinho. “No mais, é uma passagem que se destaca por uma forte lealdade ao presidente Lula, que garante que ela abra espaço no governo”.

No ministério, Dilma apresentou um modelo para mudar a regulamentação do setor elétrico, mantendo a presença privada, mas aumentando as funções de regulamentação e controle do Estado. E lançou o projeto “Luz para Todos”, para levar energia elétrica às áreas rurais ainda não atendidas pelas redes principais do país.

Após o escândalo do mensalão, que derrubou o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, Dilma foi convidada por Lula para a função, em 2005. “Na Casa Civil, Dilma coordenou todas as ações do governo, as bem e as mal sucedidas”, diz Marcelo Coutinho.

Ali, ela trabalhou na formulação do principal projeto do segundo mandato de Lula, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), um conjunto de iniciativas de infraestrutura, habitação, transportes e geração de energia. Repetidas vezes, durante o lançamento do projeto e a campanha presidencial de 2010, Lula a chamou de “mãe do PAC”.

Para Alceu Collares, a popularidade de Lula na presidência se deve diretamente ao trabalho de Dilma. “Quando o Dirceu estava lá, a Casa Civil fazia encaminhamentos de projetos. Com a Dilma, passou a cuidar da execução de projetos”, diz ele. “A minha observação é que a Casa Civil passou a ter alguém que estava fazendo um bom trabalho, começou o aumento na popularidade do presidente”, avalia.

Em abril de 2009, Dilma convocou uma coletiva de imprensa para anunciar que estava se submetendo a um tratamento contra um câncer em seu sistema linfático. Após sessões regulares de quimioterapia em São Paulo, seus médicos anunciaram que ela estava curada em setembro do mesmo ano.

Em março de 2010, Dilma deixou o cargo no governo para se lançar à Presidência da República, apoiada por Lula. Para seu lugar, ela indicou Erenice Guerra, que, em setembro, se demitiu após ter seu nome envolvido em suspeitas de tráfico de influência na pasta.

Para Coutinho, a indicação de Dilma Rousseff à Presidência era um movimento esperado desde 2008. “Em 2008, Lula já tinha claro quem ele queria lançar para sua sucessão e essa pessoa era a Dilma”, afirma. “Apesar da pouca tradição e de um perfil mais burocrata, ela foi aprendendo nos últimos meses a ser política”, avalia.

Conhecida pela personalidade forte, Dilma é “afável no trato pessoal”, segundo Fernando Pimentel. “É uma pessoa muito divertida entre amigos e familiares. No trabalho ela é muito exigente, consigo mesma e, logo, com os outros”, afirma.

“Dilma caminha na vida política brasileira com consciência”, diz Alceu Collares. “Ela não se deixa levar por oba-oba e toma decisões de acordo com sua consciência”, afirma.

Para Marcelo Coutinho, o brasileiro pode esperar “um governo de relativa continuidade”, mas “uma líder menos carismática”. “É normal historicamente que líderes extremamente carismáticos, como foi Lula, sejam seguidos por pessoas mais low profile”, afirma.

sábado, 30 de outubro de 2010

R$ 327 mil são sacados irregularmente de Lago Verde


A Polícia Federal apreendeu, na tarde dessa sexta-feira (29), às 14:30, mais de R$ 327 mil sacados irregularmente das contas do município de Lago Verde, na agência do Banco do Brasil de Bacabal. O dinheiro é de recursos federais, estaduais e municipais. Além do valor em espécie, foram encontrados com o tesoureiro e um funcionário da prefeitura, 28 talões de cheques da prefeitura e alguns cheques em branco já com a assinatura do prefeito de Lago Verde, Raimundo Almeida. Os dois homens, flagrados pela PF, foram trazidos para a sede da PF no Maranhão, em São Luís, onde prestaram depoimento durante a madrugada.

De acordo com as informações do delegado Pedro Meireles, que comandou a operação, foram utilizados mais de 40 cheques para fazer os saques de várias contas do município. “Para burlar a fiscalização da PF e da Controladoria Geral da União, que têm um sistema de monitoramento dos cheques utilizados pelas prefeituras, eles fizeram vários cheques com valores pequenos, de R$ 1 mil, R$ 1,5 mil, até chegar a quantia total. Eles rasparam as contas municipais, mas ainda não sabemos para quê", declarou Pedro Meireles. A PF procurou pelo prefeito Raimundo Almeida, para que ele desse esclarecimentos, mas não o encontrou.

A operação realizada nessa sexta-feira resultou de um inquérito que já vinha apurando denúncias de saques irregulares feitos pelas prefeituras.

Segundo as denúncias, esses saques eram sempre feitos nos dias 10, 20 e 30 de cada mês. Por volta das 12h de ontem, dia 29, o tesoureiro de Lago Verde, Alex Cruz Almeida, filho do prefeito, e o funcionário Eudisvan Lima estiveram na agência do Banco do Brasil de Bacabal e fizeram, além dos saques, transferências e depósitos em diversas contas. Logo depois, a PF flagrou-os com o dinheiro, cheques e alguns documentos, já no carro, em direção ao município.

“O valor total do que foi utilizado irregularmente pela prefeitura ainda não se tem, já que eles fizeram as transferências e depósitos. Somente depois de apurarmos tudo poderemos dizer quanto era e para que esse dinheiro seria usado, ainda mais num fim de semana de eleição”, destaca o delegado Pedro Meireles. O valor em espécie de R$327.792,00 estava trocado em cédulas de 100, 50, 20, 10, 5 e 2 reais.

Representando o município, o advogado Williame Santos afirmou que o dinheiro sacado pelo tesoureiro e pelo funcionário da prefeitura seria utilizado para o pagamento de outros funcionários da Prefeitura de Lago Verde, já que no município não há agência bancária. “Isso é um procedimento comum, não só em Lago Verde, mas em outros municípios. Nós iremos adotar os procedimentos legais para que esse dinheiro apreendido pela polícia volte para a população de Lago Verde”, disse. Sobre a localização do prefeito, o advogado afirmou que ele deve estar “tratando de assuntos políticos, já que domingo tem eleição e ele deve estar buscando apoio para o seu candidato”.

De acordo com a Polícia Federal, os responsáveis, incluindo o gestor do município, responderão por crimes determinados pelo Decreto-Lei nº 201, já que recursos não podem ser sacados, e os pagamentos só devem ser feitos por ordem bancária.